Colaboradores

segunda-feira, 21 de junho de 2010

debaixo da pele



Sabe aquela senhora que vai ali, é uma das muitas que vivem aqui.
De dia ela passa. De noite ela fica.
Aconchegada debaixo da pele. Entristecida sem outras.
Sente faltas. Sente vindas.
Falta de um aconchego à luz do dia. Um aconchego sem pedir licença...
Falta dos sorrisos que querem sair, das pontas dos dedos que quer sentir.
Vai de noite, volta de dia.

Sabe aquele vazio que fica, são muitas as pessoas que não o deixariam existir.
Medo por detrás dos óculos.
Vontade em meio aos sons.
Choros à luz do dia.
Porque se afastam? Perto, mais nada.
De nada fico. À espera.
Passos que se fincam. Corpos arrastados.
Quebram detalhes, suspiros, respiros, vontades.
Aonde vai?
Paredes espreitam-me.


Sabe aquela esperança.
O vazio pede palavras.
São palavras desconexas, não articuladas, falta raciocínio.
Mas quer. Precisa. De um ouvido para ouvi-lo.
O vazio. O medo.
São tão poucos os aconchegos.
Cadê? Pra onde foram?
Detalhes são poesias. Carinho é riqueza.
Cuidado é vendido. Afagos comprados.
Estranho. Como anda estranho.
A mim. E os outros?

Sabe aquela angustia, de indas e vindas, de fugas e voltas.
Está aqui. Não vai. Ela tenta. Não vai.
Passos pra cá. Corridas pra lá. Falas pra lá. Escutas pra cá.
Peito apertado. Soluços internos.
Saudade sem nome, nem endereço.
De um quê de presença. De histórias.

Sabe aquela carta, lida e relida. Não endereçada.
Muitos. São ela para.
Aquelas senhoras que querem. Das peles querem.
Voz. Emitir. Pedidos. Emitir.
Emitir, endereçar, dizer, alcançar, encontrar, achar!
Alguém. Alguns. Um. Um...
Escreva. Conte. Fale. Fale-me.

Sabe aquelas senhoras. Vivem aqui.
Dentro de mim. Debaixo da pele.
Detalhes são poesia. Traga-me um.


Fernanda Moreno