Colaboradores

quarta-feira, 17 de junho de 2009


Carta aberta à sociedade sobre a agressão da PM de Serra aos professores, funcionários e estudantes da USP



O ensino público no Estado de São Paulo, administrado há quase duas décadas pelo PSDB, vai de mal a pior. A realidade das escolas estaduais, que tem falta de professores e condições péssimas de infra-estrutura, é uma coisa que os pais e professores enfrentam cotidianamente. Com os salários baixos dos docentes e funcionários técnico-administrativos, a realidade da escola pública é péssima.
Com a crise econômica os ataques a educação proliferam. Sob o argumento de enxugar a máquina do Estado para reverter a crise, os governos Serra e Lula atacam os servidores públicos e os investimentos na educação.
Esse padrão péssimo de educação do ensino básico está sendo imposto na USP e no conjunto das universidades estaduais hoje. Há mais de duas décadas a comunidade acadêmica uspiana resiste aos ataques sucessivos dos governos do PSDB que insistem em precarizar o ensino superior do Estado. Através de sucessivos cortes de verbas e medidas autoritárias na forma de decretos, o objetivo desses governos é destruir o ensino superior de qualidade, assim como fizeram com o ensino básico e médio.
A última medida autoritária do governador José Serra causou repúdio em imensa parcela de membros da comunidade da USP e das universidades estaduais. José Serra criou um programa educacional para oferecer diplomas da USP através de tele-cursos chamado Universidade Virtual do Estado de São Paulo o qual apelidou de UNIVESP.
As pessoas formadas por esse programa não terão a obrigação de assistirem aulas em sala com professores para se formarem. A maior parte do seu curso será feita assistindo fitas gravadas para TV, como tele-cursos. O governo Lula também já havia criado milhares de vagas desse tipo nas universidades federais. As dúvidas serão respondidas por telefone e internet.
Nós acreditamos que é impossível formar com qualidade os professores que ensinarão nossos filhos no futuro através de uma televisão e de um computador. Não somos contra a inclusão da tecnologia mas é muito melhor ter um professor presente em sala de aula para ensinar e responder ao aluno. A convivência escolar é indispensável para a formação acadêmica. Esse projeto foi aprovado simplesmente para desobrigar o governo a contratar novos professores universitários e construir estrutura adequada para as aulas. Serra não está interessado em aumentar as vagas da universidade pública para que os filhos dos trabalhadores possam ter um ensino público, gratuito e de qualidade. Todos sabem que quem sustenta a USP são os impostos da população. Sob o argumento da inclusão social e através de uma medida eleitoreira, Serra quer criar centenas de vagas a distância na USP. Para ele os jovens pobres teriam então acesso a universidade, só que a distância.
Nós que já estamos aqui queremos que todos tenham acesso a cursos com professores de carne e osso para que não haja diferenças. Por isso queremos acabar com esse projeto do governo e lutamos para que Serra pare de dar dinheiro para empresários e banqueiros falidos e crie mais vagas na USP para a população pobre e dê mais verbas para a educação. Se alguém tem alguma dúvida de que esse projeto da UNIVESP é ruim, perguntemos ao governador ou a esses empresários se eles colocariam seus filhos nesses tele-cursos. Temos certeza que a resposta seria não.
Por lutarmos pelo direito de todos terem educação de qualidade fizemos um ato no dia 09/06, que bloqueou uma via de trânsito para chamar a atenção da opinião pública para a implementação desses cursos a distância; contra a administração truculenta da reitora Suely Vilela; em unidade com a greve dos funcionários e professores que reivindicam aumento de salário; e contra a presença da Polícia Militar na universidade, que foi acionada pela reitora para intimidar e agredir os funcionários e estudantes grevistas.
A manifestação foi programada para ser pacífica. Nos surpreendemos com o enorme contingente policial para reprimir a manifestação que tinha apenas a presença de servidores e estudantes. Para apaziguar os ânimos jogamos flores na frente dos policiais indicando que não queríamos confusão.
Não houve jeito. A polícia atacou os manifestantes com bombas, tiros de borracha, cacetadas e gás lacrimogênio. Agrediram professores respeitados em todo o país por sua produção científica, funcionários que dedicam suas vidas a manter o funcionamento da universidade e estudantes de vários cursos. Encurralados os manifestantes recuaram para dentro da universidade ao passo que resistiam com luta à atuação violenta da tropa de choque. Uma pessoa foi hospitalizada e outras três foram presas. Desde a ditadura militar que não vemos uma agressão desse tamanho na USP.
Nós queremos afirmar que a universidade é local de produção de conhecimento e ciência, não de polícia. Ao invés de caçar os verdadeiros bandidos, inclusive muitos políticos, o governo prefere agredir manifestantes que defendem a qualidade da educação. A reitoria da USP, que acionou a polícia, deveria se envergonhar de trazê-los para dentro da universidade para agredir seus alunos e servidores, respaldada sob o argumento de desfazer os piquetes de greve aprovados em Assembléias.
Há semanas que pedimos abertura de negociações com a reitoria e ela nos tem negado. Como é possível resolver os conflitos na base do diálogo se a própria administração da universidade é contra o diálogo? E mais: como dialogar contra quem chama a Polícia sem dar ouvidos às reclamações? É assim que se administra a maior universidade da América Latina, na base do cacetete? Por isso exigimos a retirada da Polícia Militar da universidade e que as negociações sejam reabertas com as categorias.
Defendemos também a expulsão da Reitora Suely Vilela do seu cargo devido sua administração truculenta e incompetente. Exigimos a retirada de todos os processos administrativos movidos contra funcionários e estudantes, principalmente a readmissão do diretor do sindicato Brandão, demitido irregularmente.
Esses ataques aos movimentos sociais tem aumentado ultimamente para que os governos e patrões possam jogar a conta da crise sobre a classe trabalhadora. Devemos repudiá-los, assim como devemos repudiar o sensacionalismo e a parcialidade da mídia que até agora tem, na maioria dos casos, se omitido de explicar as causas dos manifestantes e defendido abertamente a violência. Nesse período de caos econômico, demissões em massa e cortes nos orçamentos das áreas sociais esses ataques querem enfraquecer a resistência de quem não se conforma em aceitar uma ordem social marcada pela desigualdade.
Conclamamos a toda a sociedade, às entidades e personalidades a apoiarem nossa luta, repudiando essas ações brutalizantes do governo Serra e da reitoria contra a comunidade acadêmica da USP. Resistiremos até o fim na defesa dos nossos direitos. Nossa luta é para que todos possam ter acesso a uma universidade gratuita, pública e de qualidade, para que os filhos dos trabalhadores tenham acesso a professores ao vivo. Com violência será difícil construir uma educação melhor. Com a palavra o governo Serra e a reitoria da USP.

São Paulo, 10 de junho de 2009.

Diretório Central de Estudantes-livre da USP "Alexandre Vannucchi Leme

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Claro que não a seria mesma coisa. De manhã normalmente eles se levantavam cedo, iam caminhar ou praticar uma pequena corrida; já não seria mais assim. O que ela faria agora? Como serviria o almoço?

Mas decidiu parar de pensar nisso e continuar a escolher um vestido para a festa de Madalena. Será que ele teria a cara de pau de ir? Afinal, Mada era amiga dela, é certo que se tornaram grandes amigos após o início do relacionamento, depois que ele conheceu Mada, mas não era possivel, ele não chegaria a tanto.

Continuou a olhar com certa distância os seus vestidos, que não eram muitos, tinha jogado fora pelo menos meia duzia deles depois do fim, foram presentes. Sim, dele.


Pendeu a cabeça pro lado como quem ajeita um torcicolo e avistou uma revista de moda. Folheou sem compromisso, quem sabe não surgiria dali alguma ideia, alguma saída...

Foi até o banheiro folheando a revista, seus passos eram lentos e seus pés descalços sentiam o chão frio, mas pareciam não se incomodar, a revista também os distraia.
Abriu a ducha. Esqueceu. Passava pela sua cabeça as fotos das modelos ou seriam as suas? As fotos do Mauro tinham ficado boas, seria um grande passo para a sua carreira. Fechou a ducha e sentiu a sua pele resfriar, sentiu. Gostou de sentir e assim ficou por alguns minutos até o telefone tocar:

- Alô?

- cê vem né?

- Sem dúvida Mada! To aí em meia hora.

-Fechou!

Despediu-se. Colocou o vestido. Escolheu um verde escuro com detalhes em rosa, mas não se esqueceu do lenço preto com uma grande rosa vermelha. O resto deixou para trás, a porta e as escadas, afinal os pés ainda estavam com ela.


Fernanda Pereira