Nos seus passos havia certezas
que incomodavam muitas pessoas, mas firme em suas decisões, não excitava em nenhum
momento... Apenas ia, sem saber exatamente aonde iria chegar...
Olhares não a incomodavam mais,
menos ainda palavras grosseiras.
Na manha amena, havia algo de
sublime nas mesmas cores das casas, nas mesmas rachaduras das faces, nas mesmas
peles de camadas grossas que haviam se esquecido de escamar...
O dia ameno já trazia ventos
fortes, destes que nos conduzem. Nas danças de seus trajetos, a mulher
envolveu-se e não sabia mais caminhar, agora apenas dançava...
Ela já se permitia sentir desde
que havia deixado para trás sua casa. Iniciou sua trajetória no sentir. Com a
dança do vento deixava-se ser tocada e acariciada por todos os poros. Era como
se o vento falasse diretamente com sua pele, sem intermediários. Apenas o vento
e a pele.
Nos passos também sentia o toque
de seu cabelo, que passava pelos seus ombros, seu colo, seu rosto, sua boca, seu
pescoço, sua cintura. Toda a pele que o cabelo tocava era mais um adeus a sua
antiga morada, que não havia sido construída por ela própria.
Dos cabelos passou a sentir na sua
pele o toque de suas mãos, estas lhe cobriam de carinho e de prazer, caminhavam
por seu corpo como numa busca incessante e urgente.
Com os toques do vento, dos
cabelos e das mãos, a dança ainda precisava se completar... Assim a mulher soltou
a ultima das prisioneiras de sua antiga casa. Sua própria boca e com ela sua língua,
tão habituada a não perturbar os demais em suas comodidades.
Sua boca passou a beijar a ela própria,
como se fosse festa. A mulher deixou-se receber de si mesma uma nova face, uma
nova pele e novas cores...
E construía ela agora, com seu próprio
caminhar sua nova morada.
A mulher de longos cabelos dançou
até encontrar o seu destino...
o Prazer e a Vida