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quarta-feira, 14 de março de 2012

Pra que Fernanda?


Eu respondo a essa pergunta quase todos os dias, acabo sempre respondendo com respostas prontas e objetivas, talvez porque canso de ser interrogada ou simplesmente porque a resposta é complexa, às vezes demorada e quem pergunta tem a pressa semelhante à pergunta: tudo bem?
Mas hoje é diferente, porque quem me perguntou Pra que Fernanda? Pra que Vegana? Fui eu mesma, e não quis uma resposta simples e nem objetiva...
Para tentar me responder lembrei de quando tudo começou... Afinal já vai fazer dez anos que essa história me rodeia... Quando eu fazia quinze anos iniciei uma fase de vida que denominei: Sexo, Drogas, Rock and roll, Filosofia e Amizade. Encontrei um grupo de pessoas que tentava arduamente viver na paralela, quase como uma vida alternativa, eles discutiam o que era o amor, a liberdade, o vegetarianismo, a anarquia, e tentavam vivenciar... E eu vive no meio dessas discussões, me rasgava em conhecimento e em reflexão. Ouvia eles esbravejarem contra o sistema capitalista, as explorações, a falta de vida e de liberdade, e eu cantei suas letras...
Fui rasgando toda minha pele, todos os fios condutores de verdade, tudo o que eu carregava como “natural”; e entendia pouco a pouco que tudo o que acreditamos e vivemos é uma construção, e que sendo uma construção pode ser reconstruído.
E aquele grupo tentava viver uma reconstrução. Com tropeços, com queixas, com medos, com inseguranças, mas foi ali que eu aprendi que o mais bacana da vida é “mudar quando é lua cheia...”
Com o passar dos anos as questões foram crescendo dentro de mim, como milhares de fios que vão se espalhando pelo corpo até criarem seu próprio corpo. Em torno dos meus dezessete anos eu já sabia o que eu não queria, então decidi que não comeria mais carne, foi uma escolha mais emocional do que racional como a maior parte das minhas escolhas. E foi ai também que eu comecei a entender que a minha pele é quem fala mais alto em mim...
Não foi uma mudança fácil e nem simples, como eu acabo dizendo que foi contrariando a minha própria filosofia da construção. Brigas para tudo quanto é lado, como assim? Você vai morrer! Vai ter anemia! Vai ficar sem músculos... Eu quase não respondia, porque eu não sabia responder... ou esbravejava ou chorava, o que também mais pra frente entendi: que as minhas lágrimas são as que mais alto respondem por mim, mas ainda vou aprendendo a não ter vergonha delas e a saber responder de outras maneiras com elas sempre presentes.
Alguns anos depois foi embarcada pelas reflexões que tal escolha abrangia, muitas e muitas... E fui agregando racionalidade à minha escolha. Decidi ser vegana, agora numa decisão equiparada entre pele e razão, já que me corpo começava a recusar determinados alimentos enquanto eu ia conhecendo outras pessoas de vida paralela... ah as pessoas de vida paralela, como me alegra saber que elas existem, mais ainda quando estamos por perto.
A minha escolha não é por uma vida saudável, nem pelo desmatamento, nem por dó...
Aprendendo e refletindo sobre mim, sobre o que acredito, minhas utopias, entendendo os fios que crescem em mim, sim eles continuam crescendo aqui dentro, e sentindo pulsar e sangrar o que repudio. Eu quero vida, eu quero liberdade, e não estou viva e nem livre enquanto qualquer animal, humano ou não, não o for... livre, livre, livre... Me angustia profundamente saber que há animais, humanos ou não, que nascem para servir ao homem, alguns com o trabalho, outros com a carne, outros com o leite, outros com os ovos, outros com os ossos, outros com a pele, outros com a força, outros, outros, outros...
E entendi que não consigo e que não quero colocar pra dentro de mim, que não quero comer (sim sou uma pessoa que acredita no poder das metáforas) o que não quero que seja a realidade... Tento então em tudo quanto for possível viver o que acredito.
Vixe! Isso vai mudar alguma coisa? Talvez sim, talvez não. Mas acredito na simbologia de ações paralelas ao que se tem como natural. Eu acredito na construção e por isso tento construir com o meu corpo, com as minhas atitudes, com as minhas relações a minha utopia: liberdade e vida.

2 comentários:

Anônimo disse...

Sempre achei que te entendia, mas agora entendo mais.

Pensei em fazer um texto assim tbm...gostei.

Beijo minha poeta.

Flávia.

Fer Moreno disse...

Obrigada minha linda,

Pra mim faz muita diferença saber que você me entende...
Escreva sim, vamos conversar por textos.. =)

Beijão minha flor