Colaboradores

terça-feira, 22 de abril de 2008

Já eram duas da tarde de uma sexta-feira ensolarada e ele me levou até o ponto, um ponto de ônibus do lado de sua faculdade. Me pareceu com mais receio do que de costume, me olhava e chorava sem lágrimas. Me levou até o ponto porque tinha aula ainda nesta sexta-feira de sol que podia ter sido só nossa.
Eu não queria ir; ir pra casa comer, fumar, ligar o som e pensar nele... Pra que? Eu não queria ir. Sentia que ele também não queria, mas o medo era maior, sempre maior que nós...
Eu disse: "queria ver o que você faria se fosse com você". Ele me olhou, respondeu, mas eu não quis ouvir. Eu procurava seus olhos e seus lábios a todo instante, e ele nada, parecia que o desejo e o medo o consumiam e o meu corpo dançava para o seu.
Ele dizia: "tenho que ir, tenho aula". E eu continuava a pedir sua compania.
- Que horas você sai amanhã?, me perguntou. "Eu não trabalho amanhã", respondi. Nos olhamos.
- Podemos tentar nos ver, murmurou ele, e eu, com toda a pressa, concordei. Eu olhava sua boca, ele fugia da minha. Me disse que já ia e se levantou. Eu sentei e iniciei uma nova conversa, um novo olhar... Ele se sentou novamente. Não queríamos ir. E o dia corria...
Ele me disse que daria aulas amanhã e que assim que terminasse me ligaria, prometeu, meu olhar abaixou. Tocou em minha perna - não, não acho que alguém tenha visto - e me disse: "tenho que ir" se levantou e foi...e foi... Eu o acompanhei até a esquina, com o olhar e com o desejo. Alguns minutos de incerteza e o ônibus chegou, eu entrei e fui...e fui...


Em memória a dois seres completamente apaixonados e distantes (por medo e por medo) que “me deram” a chance de presenciar esse sentimento, por poucos momentos...


Fernanda Oliveira

2 comentários:

Nesga disse...

que coisa linda menina, nossa a gente passa tanto por isso, eu sou campeã.
meu deus como isso incomoda, igual aquela pele em cima da unha, sabe?
:O)

Anônimo disse...

lindo texto Fer, gostei!